O que até 2007 era apenas um
serviço de psicologia oferecido no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), em
Salvador, hoje é a principal alternativa para a redução dos casos de suicídio
na Bahia - 30% dos pacientes do Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio
(Neps), que ainda funciona no hospital, são resultado de tentativas de suicídio
por intoxicação, o que corresponde, segundo a coordenadora do Neps, Soraia
Carvalho, a 1.500 casos por ano no estado.
“Na faixa etária de 15 a 29
anos, o suicídio é a primeira causa de morte em muitos países e a terceira de
morte no Brasil. No nosso País, o suicídio só perde para os homicídios e os
acidentes de trânsito. Na Bahia, o número também é grande. Por isso [é]
importante trabalhar não apenas com quem já tentou tirar a própria vida, mas
também fazer um trabalho de prevenção”, explica Soraia.
A primeira etapa do
acompanhamento do Neps é a avaliação psicológica para identificação do estado
de saúde do paciente. Também é realizado, no local, sessões de psicoterapia
individual e atendimento com psiquiatria, além de terapia ocupacional em grupo.
Nesta última atividade, é estimulada a inclusão da pessoa com a sociedade.
Jornal
No primeiro semestre de
2015, os próprios pacientes passaram a escrever um jornal sobre temas
discutidos na atualidade e estudar poetas consagrados. A equipe de saúde do
Neps é formada por enfermeiras, psicólogas, terapeutas ocupacionais,
psiquiatras e estagiários de Medicina.
Ainda de acordo Soraia
Carvalho, o núcleo, que é um anexo do Centro de Informação Antiveneno da Bahia
(Ciave), atende pacientes de todas as idades. É possível ter acesso aos
serviços de saúde por dois caminhos diferentes - por demanda espontânea ou por
casos de tentativa de suicídio identificadas na emergência do Roberto Santos,
como aconteceu com a técnica de edificações Suelilde Rodrigues.
Há quatro anos, a paciente
de 49 anos frequenta o Neps. Ela tentou tirar a própria vida após uma série de
traumas sofridos na família. “Perdi meu pai e alguns amigos. Meu marido me
ignorava e até meu trabalho havia sido afetado. Aos poucos, passei a seguir um
caminho escuro, onde não tinha mais esperanças. Nessa época já tinha sido
diagnosticada com depressão em uma clínica. Usei os próprios remédios para me
matar”.
Somente na emergência do
Hospital Roberto Santos, Suelildes conheceu o núcleo. Na época, ela não
imaginava, mas essa seria uma chance de recomeçar. “Não existe comparação entre
o meu passado e o meu presente. Eu não tinha como imaginar que minha vida
ficaria tão boa como está sendo agora. Voltei a me apegar à religião, retomei
meu trabalho e agora estou construindo três casas”.
Ciave
Além de ceder espaço para o
Neps, o Centro de Informação Antiveneno da Bahia (Ciave) oferece serviços
importantes para a saúde da população. No local, funcionam consultórios,
laboratórios de toxicologia e sala de biologia. A estrutura é utilizada para a
identificação de toxinas que, por meio de plantas e animais como cobras e
escorpiões, contaminam as pessoas.
”Aqui os biólogos têm
condições de identificar o tipo de veneno e o de animal peçonhento. Nós temos
antídotos armazenados para cada tipo de situação”, explica o coordenador de
Apoio e Diagnóstico Terapêutico do Ciave, Jucelino Nery. Também funciona no
local uma sala de veterinária. A principal utilidade do espaço é o fornecimento
de orientações para outros profissionais da área e donos de animais.
“Profissionais veterinários
que trabalham com animais de grande e pequeno porte ligam para o Ciave em caso
de intoxicação dos animais e nós passamos orientações para eles. Às vezes
acontece do proprietário do animal entrar em contato conosco. A gente passa
informações para que eles saibam agir e indicamos outros veterinários para
contratarem seus serviços. Nós fazemos ainda o monitoramento dos animais de
pequeno porte que precisem ser internados”, explica a veterinária do Ciave,
Adriana Cavalcanti.