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Espirradeira,
planta ornamental que, quando cresce, ostenta
belas flores cor de rosa. (Foto:
Chloé Pinheiro)
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Quem vê as simpáticas flores amarelas que compõem a mascagnia pubifora,
nome técnico do cipó prata, nem imagina que elas são capazes de provocar morte
súbita em dezenas de bois. A toxina da plantinha, que parece inocente à
primeira vista, para o coração dos bichos assim que eles começam a se
movimentar.
Essa é apenas uma das 28 espécies que compõe o Campo Agrostológico de
Mato Grosso do Sul, que fica na Faculdade de Veterinária da UFMS (Universidade
Federal do Mato Grosso do Sul). “Aqui criamos plantas de
interesse pecuário, com potencial de causar prejuízos por intoxicação em
rebanhos no estado”, explica Ricardo Antônio Amaral de Lemos, professor de
Medicina Veterinária.
Lemos é responsável pelo projeto, o primeiro do Estado e um dos maiores
acervos do gênero do Brasil, que começou em 2012. “A ideia é avaliar os
componentes tóxicos da planta, averiguar se há mudanças conforme o exemplar é
transportado, ou se há uma fase em que elas ficam mais perigosas”, conta
Ricardo.
Em época de queimadas, por exemplo, é comum que a vernonia rubricaulis,
de folhas finas e flores lilases, esteja mais disponível aos animais. Com todo
o mato queimado, ela rebrota e aparece antes das outras. Para piorar, nessa
fase ela está mais palatável – ou seja, parece gostosa para os bichos. Mas, uma
vez ingerida, apenas 10g são suficientes para matar um boi.
Já a brachiaria, que mais parece um capim e é comum no estado inteiro,
causa deformações e até tumores nos rebanhos. A prova viva do efeito poderoso
desta espécie está lá mesmo, no jardim. Em um cercadinho vive Guaxo, ovelha de
quase 18 anos que teve uma orelha retirada e tem várias sequelas de
intoxicação.
“Ele já está tratado, mas ficou com as marcas e tivemos que retirar a
orelha por conta do câncer”, conta o professor. Por ser sensível demais, Guaxo
chegou ao campus muitos anos atrás para que os pesquisadores descobrissem as
razões que fazem alguns animais serem afetados e outros não. “Como gostamos
dele, ele ficou aqui”. Apesar da aparência, Guaxo vive a terceira idade bem, só
não pode pegar muito sol.
Utilidade pública - O jardim recebe visitas de produtores,
escolas agrícolas e até de outras universidades. Ao descobrir como se comportam
os venenos de cada planta, fica mais fácil de combater o problema. “É possível,
por exemplo, desenvolver resistência nos animais a alguns componentes através
dos micro-organismos do rumem do próprio bovino”, detalha.
Sem contar que o produtor agrícola pode economizar tanto em cabeças
quanto no gasto com herbicidas. “Geralmente, as intoxicações são reflexo ou de
desequilíbrios ecológicos ou da alimentação do rebanho”, destaca Ricardo. “E o
produtor acaba investindo em herbicidas, medida que acaba sendo cara e
ineficiente pois não resolve o problema, que tende a reaparecer”.
"Muitas vezes também os sintomas da intoxicação são pouco definidos
e as pessoas confundem com raiva e outras doenças", aponta. Por isso, mais
importante do que matar as brotações indesejadas é controlar as causas por trás
da proliferação.
Findo o projeto original, Ricardo mantém os exemplares ali e o arsenal
segue crescendo. Agora, há também plantas mais vistas no cenário urbano, como a
espada-de-são-jorge e a mamona. “Algumas delas, apesar de serem usadas para
fazer chá e até espeto para churrasco, como a espirradeira, são tóxicas para
humanos”, finaliza o professor.
Fonte: Campo Grande News
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