segunda-feira, 23 de julho de 2012

Aspectos Toxicológicos dos Incêndios


Em Salvador e região metropolitana tivemos, nos últimos meses, vários incêndios de diferentes proporções: loja de enxovais na Avenida Sete (28/03); galpão da Megastore da Insinuante (10/04), em Lauro de Freitas;  loja na Baixa dos Sapateiros (19/04); casarão no Centro de Salvador (23/04); subestação de energia da Coelba (27/05); setor do Hospital São Rafael (06/06); área externa do Hospital das Clínicas (11/07); prédio do Instituto do Cacau da Bahia (16/07), no Comércio, e em uma pizzaria no bairro da Pituba (23/07).

Este tipo de evento apresenta, também, a sua relevância do ponto de vista toxicológico. Não só para a população em geral, mas também para os profissionais que combatem o fogo.

Devemos lembrar que a fumaça é uma mistura complexa constituída de ar quente, partículas sólidas e líquidas em suspensão e gases tóxicos, o que a torna extremamente perigosa para a saúde das pessoas e para o meio ambiente.

Os gases tóxicos que são liberados num incêndio dependem, em grande parte, do tipo de material químico ou substância que está queimando e podem ser classificados, em grande parte, como irritantes respiratórios e asfixiantes.

Todos os agentes tóxicos podem causar grandes danos à saúde se estiverem presentes  em altas concentrações.

Em pessoas saudáveis a ​​fumaça pode irritar o trato respiratório (tosse, corrimento nasal e irritação de garganta) e olhos (conjuntivite, lacrimejamento), além de gerar outras manifestações, como tontura e dor de cabeça.

É importante ressaltar que a fumaça tende a piorar os sintomas daqueles que já possuem problemas respiratórios como asma ou doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), caso em que estes pacientes podem apresentar dificuldade em respirar, tosse, sensação de aperto no peito e respiração ofegante.

Além disso, crianças, mulheres grávidas e os idosos são grupos de risco, devendo-se tomar as medidas de precaução.

Entre os gases tóxicos se destaca o monóxido de carbono. Podemos encontrar, dentre muitas outras substâncias, o cianeto e cloreto de hidrogênio (ácido clorídrico), dióxido de carbono (CO2) e o dióxido de nitrogênio (NO2).

O monóxido de carbono (CO) consiste num gás inodoro e altamente inflamável. Está presente em quase todas as situações de incêndio, independente do material envolvido na queima ou tipo de incêndio. Isso se deve ao fato de o CO ser produzido pela queima dos materiais que possuem carbono em sua estrutura. Como gás asfixiante, leva à baixa de oxigênio (O2) nos tecidos corporais, principalmente nos tecidos cerebrais, levando à inconsciência e asfixia.

O cianeto de hidrogênio (ácido cianídrico, HCN) é liberado da combustão de nylon, plásticos e resinas. Consiste num gás altamente tóxico e com presença de odor.  Apresenta alta mobilidade e capacidade de penetração em substâncias ou materiais porosos, como paredes e muros, por possuir baixo peso molecular. Os efeitos da intoxicação do HCN nas fases iniciais se distinguem do CO, embora apresentem similaridade nos efeitos finais. Enquanto o processo inicial de intoxicação do CO tende a ser lenta, a intoxicação por HCN é rápida e dramática.

O ácido clorídrico (HCl) pode se formar a partir da queima de vários polímeros, gerando um efeito irritante e corrosivo aos olhos, pele e mucosas. A baixos níveis de exposição os efeitos do gás HCl se caracterizam por irritações na garganta, seguido de rouquidão, inflamação e ulceração das vias respiratórias e edema pulmonar. A níveis elevados, ocorre o estreitamento dos brônquios, com acúmulos de líquidos nos pulmões, seguido de morte.

O CO2 é um gás asfixiante, encontrado na concentração de 20,95% no ar atmosférico e tende a reduzir a concentração de O2 no ambiente. Quando sua concentração reduz o O2 para valores inferiores a 16%, os efeitos incapacitantes começam a ocorrer.  Em concentração de 16%, a freqüência respiratória e circulatória é aumentada e ocorre a diminuição da coordenação motora. A 14% de oxigênio, o indivíduo ainda está consciente, porém apresenta distúrbios respiratórios, fadiga e tontura. Em uma concentração de 10%, há o aparecimento de náuseas, inconsciência e privação motora. Já numa concentração de 6% ocorre convulsão e parada respiratória, seguido de parada cardíaca e morte.

As recomendações básicas e medidas preventivas são:

  • fechar portas e janelas para evitar a entrada da fumaça;
  • usar uma máscara ou manter um pano úmido sobre o nariz e a boca (esta medida simples oferece alguma proteção contra a inalação de fumaça);
  • se você ou alguém da sua família está grávida ou pertencem a grupos de risco (crianças, idosos, pacientes com asma ou DPOC) é aconselhável passar para um local menos contaminado.


Uma vez controlado o incêndio:
  •  se há cinzas em seu quintal, evite que seus filhos engatinhem e brinquem no chão, bem como evitem que os animais domésticos consumam alimentos diretamente do chão;
  • para limpar as cinzas, usar uma máscara e molhar previamente a superfície a ser varrida. Isso impede que as cinzas se dispersem no ar e possam ser inaladas;
  • diante da má qualidade do ar, evitar atividades desportivas nas proximidades do local;
  • mantenha sempre visíveis e em fácil acesso os números do corpo de bombeiros, policia e centro antiveneno;
  • mantenha-se atento às recomendações da autoridade sanitária.



Fontes: Ciave e Cituc. Leia mais.



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