quinta-feira, 20 de junho de 2013

O vinagre e o gás lacrimogênio

Têm-se ouvido frequentemente na mídia sobre a utilização do vinagre, nas manifestações que vem ocorrendo no país, como tentativa de amenizar os efeitos do gás lacrimogêneo, geralmente a base de cloroacetofenona.

Segundo o toxicologista Flávio Zambrone, de Campinas (SP), apesar de relatos de que o vinagre (ácido acético) causa a sensação de alívio, ele não protege contra o gás. Explica, ainda, que o vinagre não neutraliza as queimaduras e pode aumentar a irritação na pele e principalmente na região dos olhos. Segundo Zambrone, a recomendação pode ser considerada um mito.

O médico toxicologista Anthony Wong, diretor do Ceatox (Centro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas de São Paulo), assim como Dr. Eduardo De Capitani, coordenador do Centro de Controle de Intoxicações (CCI) da Unicamp (SP)afirma que nunca tinha ouvido falar sobre essa suposição. 

Wong ressalta que se usado em grandes quantidades, inclusive, o ácido acético pode provocar ainda mais dano às mucosas afetadas pelos componentes irritantes do gás lacrimogêneo. Ele ainda comenta que, há pouco tempo, foi divulgado que o líquido ajudaria a burlar o bafômetro, o que também é mentira.

Segundo De Capitani, o vinagre já foi utilizado para tratar pessoas com ardência na pele por causa da capsaicina, substância derivada da pimenta vermelha e usada no spray de pimenta. “Não tem nenhum trabalho que considere o uso de vinagre contra gás. Para gás lacrimogêneo, eu nunca vi nada para amenizar os sintomas”, disse o toxicologista.

Zambrone explica que o gás é um derivado do cloro e causa reação ao entrar em contato com a água das mucosas, queimaduras na pele, nariz e boca. “Nos pulmões provoca um aperto no peito, como se fosse uma sensação de respirar dentro de um saco plástico. Para quem tem enfermidades cardíacas e respiratórias, inalar o gás pode provocar até a morte”, disse. Outro reflexo são tosses, vômitos, queimaduras e glaucoma nos olhos.

Os efeitos levam entre 20 a 45 minutos para passar. Por esse motivo, a recomendação do toxicologista é de lavar o local em que o gás atingiu, buscar ar puro e manter a calma. "O melhor conselho é se afastar de áreas que espalham o gás, pois os componentes ficam no ar e os riscos são grandes de queimaduras", alerta o toxicologista. Em casos mais críticos, a orientação é procurar o atendimento médico.

Segundo Zambrone, para combater as substâncias reativas podem ser utilizadas máscaras com filtro de carvão ativado. “O carvão usado em churrasco, mas de uma forma mais seca", disse. Uma forma caseira de fazer uma proteção é ultizar um pano de tecido de algodão com o carvão ativado moído e colocar no rosto próximo da boca e do nariz para evitar inalar o composto.

Entretanto, o toxicologista Anthony Wong esclarece que a proteção improvisada não seria suficiente para proteger os olhos e a pele:  "Logo após a explosão, os componentes do gás lacrimogêneo ainda estão em estado líquido e podem provocar queimaduras graves", alerta o toxicologista. Portanto, o conselho dele é mesmo se afastar de possíveis locais onde essas bombas possam ser usadas. 

Zambrone ainda sugere como medida paliativa o uso de óculos que são vedados como o de motociclista, de mergulho e de piscina. Em casos de aspirar o gás, pode ser feita uma preparação com bicarbonato de sódio com água que melhoraram a inalação, no entanto o toxicologista afirma que o método não tem comprovação científica.

Sobre a divulgação em redes sociais de que a oleosidade da pele poderia facilitar o processo de queimadura feita pelo gás, Zambrone afirma que não há estudos que comprovem essa teoria. “A queimadura é muito rápida. O banho é sempre bom, mas neste caso não ajuda em nada”, explica. Para a prevenção pode ser aplicado um protetor físico e também pasta d’água e produtos utilizados para amenizar assaduras de crianças.

O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, ensina as pessoas a tirarem as roupas imediatamente após a exposição ao gás lacrimogêneo. As peças devem ser envolvidas em sacos plásticos e entregues às equipes responsáveis pelo atendimento a vítimas de exposição, pelo risco de provocar irritações graves em quem tocar nelas. 

Fonte: G1 e Uol NotíciasLeia mais.

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