segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Intoxicação alimentar ou toxinfecção?


A intoxicação alimentar, geralmente, é o resultado da ingestão de água ou alimentos em estado natural, semi-preparados, preparados, enlatados, congelados, etc., que por si só causam intoxicação ou se estiverem contaminados por produtos metabólicos de microorganismos (toxinas).

A contaminação, portanto, pode ocorrer durante o preparo, manipulação ou armazenamento dos alimentos. Os contaminadores mais comuns são as bactérias (com produção de toxina), especialmente a Campylobacter jejuni, Salmonela e Clostridium. Comumente, esse tipo de intoxicação leva a efeitos em curto prazo e acomete várias pessoas ao mesmo tempo.

"Vale ressaltar que a intoxicação alimentar decorrente de microorganismos (fungos e bactérias) difere da toxinfecção pelo fato das toxinas já estarem presentes no alimento (pré-formada) quando da ingestão (ex.: botulismo; intoxicação estafilocócica; intoxicação por aflatoxina; intoxicação por histamina produzida por bactérias em pescado), enquanto no segundo caso, as toxinas são liberadas por esses microrganismos após a ingestão do alimento (ex.: cólera, toxi-infecção causadas por E. Coli, C. perfringens e Campylobacter jejuni)", esclarece Jucelino Nery, farmacêutico e diretor interino do Centro Informação e Assistência Toxicológica da Bahia – CIATOX-BA (ex-CIAVE), centro de referência estadual em Toxicologia, órgão da Secretaria Estadual de Saúde (SESAB).

De acordo com o farmacêutico do CIATOX, a intoxicação pode se dar ainda pela presença de toxinas naturalmente presente em alguns alimentos que, em determinadas condições, leva ao acometimento de pessoas que fazem a sua ingestão. Temos como exemplo a batata com coloração verde, que contém a solanina, alcalóide tóxico que funcionam como mecanismo de defesa, produzido pelos tubérculos quando permanecem expostos à luz. Outro caso é o da carambola, que possui a enzima caramboxina, quando ingerida por pacientes com problemas renais crônicos deixa de ser filtrada pelos rins e se acumula no organismo, levando à intoxicação.

Por outro lado, podem ocorrer intoxicações por agentes químicos tendo o alimento como veículo, podendo envolver metais, pesticidas e outros agentes quimicos (metanol e dietilenoglicol), além da ingestão de animais ou plantas venenosas como o baiacu e a mandioca-brava (muitas vezes confundidas com a mandioca-mansa), respectivamente.

Jucelino exemplifica a ocorrência do alimento como veículo nos casos de intoxicação na ingestão de cachaça contaminada por metanol (ocorrido em Santo Amaro, em 1988); na contaminação acidental de feijoada por arsênico; na adição intencional de chumbinho em café; na ingestão de laranja contaminada por agrotóxico; ingestão de cerveja contaminada por dietilenoglicol (ocorrido em Minas Gerais em 2019); etc.

O farmacêutico ressalta que é comum as pessoas confundirem a reação alérgica ou intolerância a algum tipo de alimento com intoxicação. "A alergia alimentar consiste em uma reação do sistema imunológico que ocorre logo após a ingestão de um determinado alimento (ex.: Camarão, ovo, etc), podendo variar de leve a grave. A intolerância, por sua vez, é uma resposta do organismo à ingestão de um determinado alimento (ex.: leite), em função de uma dificuldade no processo digestivo".

"Infelizmente, as intoxicações alimentares ainda são pouco notificadas, apesar da sua obrigatoriedade, o que se dá pela falta de percepção dos profissionais quanto à importância da notificação. De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan, em 2019 ocorreram apenas 09 casos em todo o estado. O CIATOX-BA atendeu no mesmo ano 9 casos (0,1% de todo o total). Vale lembrar que aqui estão incluídos apenas os casos de toxinas naturalmente presentes nos alimentos ou produzidas por microrganismos", afirma o profissional.

A prevenção da intoxicação alimentar é feita com a adoção de higiene adequada dos alimentos, além da sua conservação em recipientes limpos e locais refrigerados. Também é importante estar atento à procedência dos alimentos e a sua data de validade. Além disso, deve-se evitar comer em lugares onde a higiene ou o preparo e conservação do alimento não sejam confiáveis.

Fonte: CIATOX-BA.