sexta-feira, 29 de junho de 2018

Na contramão de Europa e EUA, Brasil caminha para liberar mais agrotóxicos

Se o novo PL 6.299/2002, aprovado na noite de segunda-feira por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, virar a nova lei de agrotóxicos, o Brasil estará na contramão das decisões recentes de países da União Europeia.

É o que diz a pesquisadora Larissa Mies Bombardi, do Laboratório de Geografia Agrária da Universidade de São Paulo (USP), autora do atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e Conexões com a União Europeia, de 2017, que mapeia o uso dessas substâncias em todo o país e o compara com o uso nos países da UE.

"Para se ter uma ideia, eles (os europeus) acabaram de proibir o uso de inseticidas chamados de neonicotinoides, que são dos mais vendidos no mundo, por que pesquisas mostravam uma relação entre eles e a mortandade de abelhas", disse à BBC News Brasil.

"Aqui, essas substâncias ainda são usadas. E agora, com o novo projeto de lei, ainda vamos ampliar o leque de agrotóxicos disponíveis no mercado."

O projeto, proposto originalmente pelo ex-senador e atual ministro da Agricultura Blairo Maggi (PP-MT) e cujo relator é o deputado Luiz Nishimori (PR-PR), também dá mais poderes ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para realizar a avaliação toxicológica das substâncias e aprovação do seu uso, dimuindo as competências de controle e fiscalização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no processo.

O debate vem causando polêmica entre ruralistas, a favor do PL, e órgãos como Anvisa, Ibama, Fiocruz, Instituto Nacional do Câncer (Inca) e Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), que se posicionam contra, afirmando que a mudança reduz os níveis de segurança para o consumidor.

Os produtores reclamam da demora na liberação dos agrotóxicos e dizem que, quando o governo autoriza a aplicação, os produtos já estão obsoletos. Pessoas favoráveis ao novo projeto de lei afirmam que ele é mais eficiente e condizente com as normas internacionais de uso das substâncias.

Opositores, por sua vez, afirmam que a nova medida favoreceria apenas os fabricantes dos químicos, facilitando a entrada de produtos possivelmente danosos à saúde e ao ambiente no mercado.

O PL foi aprovado na comissão após pelo menos oito tentativas de votá-lo, que foram palco de debates acalorados, xingamentos entre deputados e manobras para atrasar a decisão sobre o tema. O texto ainda não tem data para ser levado ao plenário da Câmara.

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, ligada ao MAPA), além de organizações e sindicatos que representam produtores das substâncias usadas nas lavouras, se posicionaram a favor da medida.

Do outro lado, reuniram-se, além de Anvisa, Ibama e Consea, organizações ambientalistas e até celebridades, como Caetano Veloso, Bela Gil e atores de televisão, que chamam o projeto de "PL do Veneno".

Saiba quais os principais pontos polêmicos da medida:

'Risco inaceitável'

Uma das principais controvérsias do projeto é a ideia de que agrotóxicos só serão proibidos no país caso apresentem "risco inaceitável", que é definido como "nível de risco considerado insatisfatório por permanecer inseguro ao ser humano ou ao meio ambiente, mesmo com a implementação das medidas de gerenciamento dos riscos".

Atualmente, a lei 7.802/1989, que rege o uso de agrotóxicos, é mais rígida, e proíbe especificamente substâncias que revelem características teratogênicas, carcinogênicas ou mutagênicas (que provoquem câncer ou alterações em embriões ou no DNA), de acordo com resultados de experiências da comunidade científica; que provoquem distúrbios hormonais e danos ao aparelho reprodutor, que se revelem mais perigosos para o homem do que os testes de laboratório, com animais, tenham podido demonstrar e que causem danos ao meio ambiente.

"Na prática, essa proposta é um grande retrocesso porque põe a perder o nosso parâmetro de precaução. Como vamos saber o que é risco inaceitável? Como exatamente se define isso?", diz Bombardi.

"Já somos muito mais permissivos no limite de substâncias que permitimos que sejam usadas nas plantações e que estejam nos alimentos e na água. Por exemplo, permitimos um nível de glifosato na água (considerado cancerígeno para animais e provavelmente para o homem pelo Centro Internacional de Pesquisa sobre o Câncer) até 5 mil vezes maior do que a UE permite".

De acordo com o atlas, o limite máximo de resíduos permitido em alguns alimentos no Brasil chega a ser 400 vezes superior ao da União Europeia. No caso da água, essa diferença pode ser de 5 mil vezes mais.

A definição de risco inaceitável, de acordo com a PL, seria feita por técnicos responsáveis por fazer uma avaliação de risco, outra novidade introduzida no projeto.

Análise de risco, não só de perigo

Atualmente, os órgãos responsáveis no Brasil fazem uma avaliação do perigo dos agrotóxicos, ou seja, de qual perigo eles podem oferecer à saúde e ao ambiente, segundo a ciência, como determina a lei. Em outros países, como na União Europeia e nos Estados Unidos, também é feita, juntamente com a avaliação do perigo, uma análise de risco.

Esta análise leva em conta a exposição que as pessoas realmente têm ao produto no dia a dia, caso ele seja aplicado da maneira correta definida pela empresa que o fabricou.

"Este é o grande avanço do PL. Possibilitar uma analise dos produtos não apenas pelo perigo, mas pelo risco, que é o conceito moderno de avaliar qualquer substância e processo. É um procedimento mais complexo, mas muito mais seguro em termos de ambiente e de saúde", disse à BBC News Brasil José Otávio Menten, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e presidente do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS).

A questão é que cada agrotóxico deve ter uma dosagem e uma maneira correta de aplicar em produtos diferentes, o que torna a análise de risco complexa e, 0também, "não tão objetiva", segundo Menten.

"Esse procedimento requer técnicos mais experientes, porque ele não é tão objetivo. É um dos procedimentos que mais exigem qualificação e preparo de técnicos que possam entender até que ponto a gente pode e não pode ir", afirma. Anvisa e Ibama reclamam da falta de recursos para o preparo de profissionais para avaliar com mais rapidez, de acordo com a lei atual, os pedidos de registro de agrotóxicos. Em nota técnica sobre o PL 6922/2002, a Anvisa diz que, o país não tem estrutura, atualmente, para fazer a análise de risco dos agrotóxicos.

"Há estratégias de possibilidade de avaliação do risco que não estão ainda internacionalmente pacificadas, o que demanda maturidade regulatória, necessidade de condução de estudos para quantificação da exposição no Brasil e técnicos especializados em número suficiente para o atendimento da demanda, o que não corresponde à realidade brasileira no momento", afirma o órgão.

Para Menten, no entanto, isso são "limitações" que o país pode ultrapassar. "Os nossos técnicos talvez tenham que ser reciclados, atualizados. Não é uma coisa que vai acontecer de um dia para o outro, mas não podemos ficar parados por falta de técnicos suficientes. Vamos qualificando nossos técnicos com o tempo."

Mais substâncias no mercado provisoriamente

A lei atual de agrotóxicos também não estabelece prazos-limite para que os registros de novos produtos sejam concedidos. Na prática, o processo pode levar entre cinco e oito anos, e os produtores reclamam que essa lentidão impede que o Brasil consiga usar produtos mais eficientes e menos tóxicos que estão no mercado internacional.

Com o novo PL, ficam estabelecidos os prazos de 30 dias - para o registro especial temporário de um produto que precise ser usado para pesquisas acadêmicas - até 24 meses (dois anos), para produtos completamente novos no Brasil.

No entanto, se esses prazos de análise não forem cumpridos pelos órgãos federais, as empresas, segundo o projeto, podem pedir um registro temporário para seus produtos, e já colocá-los no mercado enquanto eles esperam a aprovação (ou reprovação) do Ministério da Agricultura.

Para conseguir esse registro temporário, basta que o produto tenha sido autorizado da mesma maneira por três países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), organização que reúne alguns dos países mais desenvolvidos do mundo.

"A OCDE tem 37 países. Nela estão Japão e União Europeia, que podem ser exemplos no uso de agrotóxicos. Mas também estão México, Turquia e Chile, que nem sempre são bons exemplos. Quais três países serão escolhidos? Novamente, não fica claro", questiona Larissa Bombardi.

O projeto de lei diz que os três países que aprovaram previamente o agrotóxico devem obedecer ao Código Internacional de Conduta sobre a Distribuição e o Uso de Pesticidas da FAO, organização da ONU para a alimentação.

"Um terço dos 504 agrotóxicos que são autorizados no Brasil são proibidos na UE. Dos dez mais vendidos no Brasil atualmente, dois são proibidos lá. O que pode acontecer agora é que essa diferença pode aumentar. Outros agrotóxicos que o Brasil proibiu podem voltar a ser avaliados e permitidos", diz a pesquisadora.

A possibilidade de colocar agrotóxicos no mercado provisoriamente da forma como proposto no PL não existe na União Europeia, ressalta a pesquisadora.

Para José Otávio Menten, que é favorável ao novo projeto de lei, o registro provisório é o ponto mais "delicado" e "preocupante".

"Se esse registro servir para que haja um estímulo para a análise mais rápida, é até válido. É uma maneira de pressionarmos por maior eficiência. Mas temos de lutar pela melhoria do Ibama e da Anvisa para usarmos esse dispositivo da lei em casos raros, que não vire uma regra", pondera.

"Temos cerca de 30 produtos já registrados em outros países e não no Brasil. E, se estão registrados em países onde passaram por análise bem feita, espera-se, acho que a chance de termos problemas com eles é pequena. Mas o ideal seria que eles só entrassem no mercado depois da consulta aos nossos órgãos, e que eles fossem ágeis."

Atualmente, a Anvisa tem 32 agrotóxicos novos - ou seja, cujas moléculas nunca foram registradas no Brasil - esperando pelo parecer que pode conceder o registro para serem vendidos no país.

A agência, no entanto, é apenas uma parte da equação, que envolve os pareceres do Ibama e do Ministério da Agricultura. O Ibama tem cinco produtos ainda em análise na lista divulgada em seu site. Até o fechamento desta reportagem, o Ministério da Agricultura não havia divulgado quantos agrotóxicos estão pendentes do registro no Brasil.

Sem reavaliação determinada por lei

Segundo Larissa Bombardi, o PL também perdeu a oportunidade de implantar uma reavaliação cíclica dos registros dos agrotóxicos, como em países desenvolvidos.

Nos Estados Unidos, eles devem ser reavaliados a cada 15 anos. No Japão, a cada três. Na Europa, são 10 anos. Após esse período, as autorizações devem ser revistas de acordo com as novas pesquisas científicas disponíveis sobre elas. Em todos os casos, a sociedade também pode pedir a reavaliação.

No Brasil, uma substância só é reavaliada atualmente mediante pedido. O glifosato, por exemplo, está sendo reavaliado desde 2008. Na UE, sua licença foi renovada no ano passado, mas continua sendo questionada por instituições de saúde. A França determinou que o produto será proibido a partir de 2022.

Menten, no entanto, diz que o sistema brasileiro é "mais inteligente". "Teríamos que parar outros serviços para fazer essa revisão, se ela fosse implantada. Mas sempre que houver um fato novo, podemos revisar", diz.

Agrotóxicos x Fitossanitários x Pesticidas

A controvérsia em relação ao projeto de lei chegou até mesmo ao nome utilizado para se referir aos produtos químicos usados na agricultura.

Inicialmente, o PL sugeria que o nome agrotóxicos fosse substituído por "produtos fitossanitários". Em resposta à reclamação de opositores, o relator do projeto, Luiz Nishimori, decidiu pelo termo "pesticidas".

"Além de depreciativo, o termo agrotóxico só é utilizado no Brasil", diz o relatório.

"Cabe lembrar que a escolha natural seria o termo adotado em Portugal, que denomina essas substâncias pesticidas. Nas principais línguas do mundo, adotam-se variações com a mesma etimologia: pesticidas (espanhol), pesticide (inglês), Pestizide (alemão), pesticides (francês), pesticidi (italiano), pesticider (dinamarquês e sueco), pesticiden (holandês), пестициды (pestitsidy - russo). Ademais, os tratados e acordos internacionais utilizam o termo pesticidas."

Para Menten, a denominação não é relevante, mas a expressão "agrotóxicos", de fato, inadequada.

"Pesticida também não é adequado, é qualquer produto para matar pragas. Se eu estou falando apenas de produtos para manejo de pragas agrícolas, o correto é fitossanitários. Mas isso tem uma importância menor", diz.

Já Larissa Bombardi, que também se opõe a esta mudança, afirma que a questão não é "apenas semântica".

"É uma estratégia para mascarar o risco para a saúde humana que esses produtos têm. Quando você fala em pesticida, diminui a gama de significados. Os dois mais vendidos no Brasil são herbicidas, por exemplo, não pesticidas. Pesquisadores europeus já me disseram que era um ganho termos a expressão 'agrotóxico' na nossa lei, e que não deveríamos perder", diz.

Fonte: BBC News Brasil.

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Mel diminui efeito cáustico da ingestão de pilhas botão

"Além disso, antes do tratamento deve-se considerar a história clínica de doenças que contraindicam o uso dessas substâncias, como a alergia grave ao mel ou ao sucralfato, e o fato de a criança ter menos de um ano de idade, devido ao pequeno risco de botulismo infantil associado ao mel”.

Foto: Ciave-BA
O mel pode diminuir o risco de lesões graves resultantes da ingestão da pilha botão (bateria redonda ou pilha moeda), e deve ser administrado o mais rápido possível, e repetidamente, após a ingestão da pilha, mostrou pesquisa.

Usando modelos de animais vivos e de cadáveres animais, Rachel R. Anfang, MA, da Divisão de Otorrinolaringologia do Children's Hospital of Philadelphia, na Pensilvânia (EUA), e colaboradores, avaliaram o efeito protetor do mel, bem como de bebidas comuns com baixa acidez, e do sucralfato, utilizado contra úlceras, nas lesões cáusticas causadas quando uma pilha botão entra em contato com a mucosa esofágica. Tanto o mel quanto o sucralfato diminuíram a descarga da bateria, neutralizaram o aumento do pH na mucosa no local de contato da bateria atingindo níveis considerados clinicamente ideais e protegeram contra as lesões profundas de mucosa, relatam os autores em um estudo publicado on-line em 11 de junho no periódico The Laryngoscope.

As lesões por pilha botão têm se tornado cada vez mais comuns e mais graves, tanto porque essas baterias redondas estão em quase todos os pequenos aparelhos eletrônicos atuais, quanto porque a última geração delas é ainda menor e mais poderosa do que nunca, explicam os autores.

“Mais de 3.000 ingestões de pilha botão são notificadas anualmente nos Estados Unidos. Embora isso represente uma pequena parte da ingestão de corpo estranho por crianças, a pilha botão contribui para a piora do problema por seu sério risco de morbidade e mortalidade”, escreveram.

“Houve um aumento de 5,8 vezes nas lesões graves, e um aumento de 12,5 vezes dos desfechos fatais de 2006 a 2017 comparados ao período de 1994 a 2005”.

Crianças com menos de seis anos de idade, atraídas pela aparência brilhante e pela semelhança com balas ou doces das pequenas baterias, correm maior risco de ingestão, observam Rachel e colaboradores.

Para investigar as possíveis opções de redução dos danos durante o intervalo entre a ingestão da bateria e a remoção endoscópica dela, os pesquisadores avaliaram o efeito de neutralização do pH de soluções viscosas fracamente ácidas na evolução da irritação no esôfago de cadáveres de leitões e no esôfago de leitões vivos, fazendo verificações antes do contato com a pilha botão e após a remoção dela. Nos experimentos in vitro, os cortes de esôfago foram expostos a cada 10 a 15 minutos a diversos tipos de substâncias: mel, sucralfato, suco de maçã, suco de laranja, vários repositores energéticos, xarope de ácer, saliva artificial e controle com cloreto de sódio a 0,9%. No estudo in vivo, foram feitas irrigações seriadas a cada 10 minutos via laringoscópio com soro fisiológico, suspensão de sucralfato (1 g/10 mL), ou mel (Pure Clover Honey™ , Gunter) durante um período de 60 minutos, durante o qual a bateria permaneceu no lugar.

A análise dos cortes anatômicos in vitro mostrou que somente o mel e o sucralfato neutralizaram o aumento do pH da mucosa no local de aplicação da bateria a níveis considerados clinicamente ideais e estatisticamente significativos em relação ao controle com soro fisiológico.

“Isso se manteve verdadeiro quanto à capacidade de diminuir a gravidade das lesões na mucosa das peças anatômicas”, informam os autores, observando que o tecido tratado com soro fisiológico manteve o pH muito alcalino e causou maior lesão tecidual.

Resultados semelhantes foram observados no estudo in vivo. “O mel foi mais eficaz do que o sucralfato, e ambos foram significativamente melhores do que o soro fisiológico em retardar a descarga da pilha botão e em neutralizar o aumento do pH da mucosa”, informam os autores.

E embora não tenham havido diferenças significativas na região da superfície da úlcera nas amostras in vivo, a gravidade da lesão diferiu substancialmente. “Metade dos animais de controle evoluíram com perfuração esofágica tardia, enquanto nenhum animal tratado com mel ou sucralfato apresentou essa complicação grave”, observam os autores. “A avaliação dos cortes anatômicos corados com hematoxilina e eosina revelou profundidades significativamente maiores de necrose, e havia tecido de granulação cicatricial em níveis significativamente mais profundos entre os controles do que nos dois grupos de tratamento”.

A mucosa dos controles também mostrou destruição mais extensa da camada muscular profunda do esôfago, afirmam os autores.

“Curiosamente, o tecido lesado não estava na região diretamente abaixo da mucosa da superfície ulcerada. Todos os grupos apresentaram destruição da camada muscular estendendo-se além da lesão visível na superfície, com grau significativamente maior encontrado no grupo de controle”.

Outras análises mostraram necrose de coagulação mais extensa e lesão muscular com o soro fisiológico, e fibrose de reparação com colágeno mais densa nas regiões de lesão grave com mel e sucralfato.

Esses achados sugerem que a extensa lesão na camada muscular profunda adjacente para além das pequenas margens da úlcera mucosa leva ao colapso estrutural do tecido na região da úlcera, que por sua vez leva a “perfurações surpreendentemente grandes com extensão externa mínima da lesão muscular externa”, escrevem os autores.

“Este estudo destaca o aumento do risco que o grupo controle tem de evoluir com lesões perfurantes e outras complicações graves de uma lesão por pilha botão. Comparativamente, o mel e o sucralfato foram eficazes em reduzir a progressão da lesão, alterando o padrão de lesão para um padrão mais favorável".

Dado o risco de impactação esofágica da pilha botão – podem ocorrer sérias lesões, como perfuração esofágica, paralisia das cordas vocais e erosão das vias respiratórias ou dos grandes vasos sanguíneos, nas duas primeiras horas após a ingestão – os autores sugerem a intervenção precoce com mel ou suspensão de sucralfato em caso de ingestão de bateria, suspeita ou testemunhada.

“Deve-se ter cautela em casos de diagnóstico tardio ou de ingestão em estágio avançado, para os quais já existe suspeita clínica de perfuração, mediastinite ou sepse”, escrevem os pesquisadores.

"Além disso, antes do tratamento deve-se considerar a história clínica de doenças que contraindicam o uso dessas substâncias, como a alergia grave ao mel ou ao sucralfato, e o fato de a criança ter menos de um ano de idade, devido ao pequeno risco de botulismo infantil associado ao mel”.

A dose e o volume ideais de mel ou sucralfato podem ser avaliados em estudos futuros, mas a frequência e dose usada neste estudo (10 mL ou duas colheres de chá a cada 10 minutos) são uma referência razoável, escrevem os autores. Em termos de uso, eles acrescentam que “a opção do mel é para uso doméstico e destinada a ser utilizada até que a criança possa chegar a uma unidade de saúde. Uma vez na unidade de saúde, o sucralfato pode ser utilizado até a remoção da pilha botão”.

O financiamento deste estudo foi feito com bolsa do Children's Hospital of Philadelphia Frontiers Program, da Filadélfia. Os autores revelam manter relações com as empresas Intertek, Marpac Inc, e com as organizações National Button Battery Task Force, American Academy of Pediatrics e a American Bronch-Esophagological Association. Os autores informaram não possuir conflitos de interesses .

Fonte:  The Laryngoscope.

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Profissionais do Ciave recomendam cuidado com intoxicações e envenenamentos nos festejos juninos

Durante as festas juninas, além da animação, existem também diversos fatores de risco de intoxicação ou envenenamento. Segundo o médico toxicologista Daniel Rebouças, diretor do Centro de Informações Antiveneno (Ciave), “neste período são frequentes as intoxicações por alimentos contaminados e bebidas alcóolicas, além dos acidentes por animais peçonhentos”.

O médico lembra que uma das grandes atrações das festas juninas são as comidas típicas. Portanto, deve-se estar atento para não sofrer intoxicação causada por alimentos contaminados por bactérias ou fungos que produzem toxinas, principalmente aqueles mal armazenados, manipulados ou expostos ao ambiente por muito tempo. Além dos alimentos prontos, é preciso ter cuidado também com os ingredientes como o amendoim e o milho, que podem representar perigo à saúde quando contaminados por fungos ou bactérias.

Para garantir que as delícias de São João não se transformem em dor de cabeça, é preciso tomar cuidado na hora de comprar os ingredientes e manusear os pratos. Deve-se dar preferência aos alimentos frescos e evitar aqueles que possam ter sido manipulados, principalmente se estiverem expostos ao ambiente, pois podem se constituir em um meio de cultura fácil para a proliferação de germes patogênicos.

Nos últimos três anos, com uma média mensal de 58 casos, o mês de junho foi o que teve um maior número de intoxicação alimentar na Bahia, correspondendo a 12% dentre todos os agentes tóxicos, segundo dados do Ciave. “É preciso estar alerta quando se tratar de crianças e idosos, além de pessoas com o sistema imunológico comprometido, pois estes precisam de cuidado redobrado, uma vez que a intoxicação pode ter uma gravidade maior. No que diz respeito às crianças, deve-se evitar deixar ao seu alcance substâncias tóxicas, como medicamentos e bebidas alcoólicas.

O farmacêutico Jucelino Nery, do Ciave, e também coordenador do Programa Nacional de Controle de Acidentes por Animais Peçonhentos no Estado, chama atenção para o risco deste tipo de acidente no período junino, principalmente serpentes e escorpiões, em função do maior fluxo de pessoas em cidades do interior com proximidade de matas, preparo do solo, plantio, colheita e procura de madeira para as fogueiras. Segundo o farmacêutico, a Bahia notificou 20.996 casos de acidentes por animais peçonhentos em 2017. Já este ano, só nos três primeiros meses, segundo o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), foram notificados 5.436 acidentes (74% por escorpiões e 10% por serpentes), o que corresponde a um aumento de 8% em relação ao primeiro trimestre de 2017.

Tanto nos casos de acidentes por animais peçonhentos quanto por intoxicações por outros agentes, é importante evitar a automedicação e medidas não adequadas como o uso de leite (não funciona como antídoto e facilita a absorção de muitas substâncias tóxicas), estímulo de vômito (caso não haja orientação médica), dentre outras, que podem agravar o quadro clínico da vítima.

Segundo Daniel Rebouças, ao contrário do que muita gente pensa, o Ciave não realiza atendimento presencial no próprio Centro, devendo a vítima ser conduzida para a unidade de saúde mais próxima para o tratamento médico adequado. Quando necessário, o Ciave é contatado para prestar orientações quanto ao diagnóstico e tratamento. O atendimento presencial é feito na emergência do Hospital Geral Roberto Santos, quando a vítima é transferida para lá através da Central de Regulação, geralmente nos casos mais graves, que requerem uma atenção mais especializada.

No caso de acidentes por animais peçonhentos, algumas medidas populares são totalmente inadequadas como: amarrar, sugar ou cortar o local da picada; passar alho, café ou qualquer outro produto no local; dar bebida alcoólica, querosene, remédios considerados “milagrosos”, etc. Tudo isso pode agravar o quadro clínico e prejudicar o tratamento. O que deve ser feito é procurar acalmar a vítima, lavar bem o local da picada com bastante água (e sabão, se houver disponibilidade), colocar a vítima em repouso (com o membro afetado elevado sobre um apoio) e transportá-la imediatamente (de forma segura), para a unidade de saúde mais próxima. Caso o animal tenha sido capturado, levá-lo para identificação.

Como os sintomas variam de acordo com a forma de contato e o tipo de agente causador da intoxicação, em caso de dúvida no diagnóstico e tratamento, os profissionais de saúde podem entrar em contato com o Ciave para buscar orientações. O serviço funciona 24 horas por dia, com profissionais de plantão para prestar orientação toxicológica a esses tipos de ocorrências.

Fonte: Ciave

sábado, 9 de junho de 2018

Homem quase morre por picada de cabeça de cobra cortada do corpo

Cascavel. (Foto: Fábio Barbosa)
Circula pelas mídias de notícias e sociais a informação sobre a ocorrência, há algumas semanas, de picada de um homem pela cabeça cortada de uma cascavel que ele havia matado. Segundo relatos, o fato ocorreu no Texas (Estados Unidos). O homem estava trabalhando no jardim, quando viu a cobra cascavel de 1,25m. Em seguida, ele a matou cortando a cabeça. Ao pegar as partes do animal para se livrar delas foi mordido, sendo levado ao hospital para tratamento.

Apesar de circular muitas fakenews atualmente e parecer estranha esta notícia, tudo indica que ela é verdadeira. Tal fato pode realmente ocorrer, esclarece o farmacêutico bioquímico Jucelino Nery, do Centro de Informações Antiveneno (Ciave), órgão da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia.

Segundo o farmacêutico, “mesmo sendo decapitada, a serpente pode contorcer o corpo por mais de uma hora e a sua cabeça, mesmo separada do corpo, mantém o reflexo de mordida”. Afirma ainda que “estes movimentos ocorrem por um tempo (cerca de uma hora) após a morte do animal porque os neurônios motores do arco reflexo, os quais controlam os músculos sem necessitar de informações enviadas pelo cérebro (ou seja, sem a vontade ou consciência do animal) continuam transmitindo os estímulos elétricos, pois as células musculares ainda se encontram vivas”.

Como a peçonha é produzida e armazenada por duas glândulas localizadas na cabeça da serpente, as quais se interligam por canais até as presas do animal (dentes desenvolvidos semelhantes a agulhas hipodérmicas), a mordida pela cabeça desprendida do corpo poderá levar à inoculação de veneno, assim como ocorre com o animal vivo, esclarece o técnico do Ciave.

Segundo Manoel Joaquim B. de Paula R. de Miranda, biólogo e ex-estagiário do Ciave, já ocorreram outros casos, os quais também foram noticiados anteriormente. O biólogo relata três casos noticiados: um em 2007, em Washington (EUA), onde um homem de 53 anos foi mordido após cortar a cabeça de uma cascavel com uma pá. Em 2014, um chefe de cozinha chinês evoluiu para óbito em decorrência de mordida quando preparava um prato com a cobra que ele havia matado há 20 minutos. No mesmo ano, na Austrália, um senhor de 66 anos, ao pegar os restos do animal, foi mordido duas vezes quarenta e cinco minutos após cortar uma cobra ao meio.

Na Bahia foram notificados mais de 52.000 casos de acidentes por serpentes nos últimos três anos, com uma média anual de 17.000 casos. Em 2017, o número saltou para mais de 21.000 casos, segundo informações do Ciave.

No caso de acidente por animal peçonhento, deve-se manter a vítima calma, lavar o local da picada com água e sabão, colocá-la em repouso com a área afetada elevada (sobre um apoio) e transportá-la para uma unidade de urgência/emergência com a maior brevidade.

Fonte: Ciave.

Intoxicações por agrotóxicos cresceram mais de 300% em nove anos no Estado (MG)


Minas é o segundo Estado no ranking nacional de intoxicações por agrotóxicos. O dado consta em relatório publicado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e revela que as notificações por aqui cresceram mais de 300% de 2007 a 2015. No período, mais de 13 mil casos foram contabilizados. 
O aumento vai de encontro a um projeto de lei de autoria do deputado federal Luiz Nishimori (PR), do Paraná, que pretende flexibilizar o uso dos defensivos agrícolas em todo o país. O texto propõe, dentre outras medidas, a troca do termo “agrotóxico” por “produto fitossanitário”.
Além disso, a proposta inicial visava concentrar a autorização para a venda dessas substâncias apenas no Ministério da Agricultura. Hoje, é preciso passar pelo crivo da Anvisa e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) antes de a comercialização ser permitida.
Porém, especialistas alertam que, caso o projeto seja aprovado, os prejuízos à saúde da população podem ser incalculáveis. Toxicologista da Unidade Técnica de Exposição Ocupacional do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Márcia Sarpa afirma que inúmeros estudos já associaram a exposição aos agrotóxicos a vários tipos de doenças.
Nocivos
A pesquisadora explica que as pessoas podem ter intoxicações agudas, que ocorrem depois do contato com grandes quantidades desses produtos em um curto período de tempo, ou crônicas, que é a forma mais comum, depois de pequenas exposições aos agrotóxicos ao longo de muitos anos. 
Nesse último caso, os efeitos afetam os sistemas imunológico e endócrino, causando até mesmo a desregulação hormonal. “Na prática, o longo contato pode adiantar a puberdade em adolescentes, provocar abortos, crianças com malformação, infertilidade masculina e até câncer”, explica Márcia. 
Hoje, vários defensivos banidos da agricultura de diversos países continuam sendo usados no Brasil. Para a toxicologista, a mudança proposta pelo projeto de lei pode aumentar a insegurança alimentar de milhares de pessoas. “Essa medida quer estabelecer limites aceitáveis para agrotóxicos proibidos. O problema é que, para essas substâncias, não há dosagem segura”.
Fiscalização
No Estado, 1.530 marcas de defensivos têm autorização do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) para serem comercializadas. Dentre os vários tipos no mercado, o herbicida glifosato é o mais utilizado. Não por acaso, o produto também está relacionado à maior parte dos casos de intoxicação por aqui, segundo a Anvisa.
Milho, soja, feijão e algodão são os cultivos que mais utilizam as substâncias em Minas
O uso de agrotóxico em Minas é mais comum nas plantações de milho, soja, feijão e algodão. Esses cultivos são, também, os que ocupam as maiores áreas de plantio do Estado.
Conforme o IMA, cerca de 840 fiscalizações são feitas por mês, tanto em áreas urbanas quanto rurais. Multas são aplicadas ao se constatar a utilização de substâncias proibidas ou com manejo incorreto. Em 2017, 22 autos de infração foram registrados.
Por nota, a Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef) se posicionou favoravelmente à “modernização” da lei e defendeu ser possível o uso do produto de forma segura.
Já o deputado Luiz Nishimori destacou que uma das principais inovações da proposta é a inclusão do critério de avaliação de risco em complemento à análise de perigo utilizada hoje para novos produtos. “Significa que, quando manuseados corretamente, aplicados em quantidade, frequência e prazos adequados, os defensivos não oferecem riscos à saúde”.
O autor do projeto de lei diz que o registro de agrotóxicos continuará sendo analisado pelo Ibama e pela Anvisa
Sobre a alteração da nomenclatura para produtos fitossanitários, o parlamentar informou que “este é um detalhe que pretende colocar o Brasil em consonância ao que é praticado em outros países”.
Agroecologia é aposta dos órgãos de saúde para pôr fim ao uso de produtos nocivos
A agroecologia é apontada, por órgãos de saúde de todo o mundo, como a principal alternativa para os agrotóxicos. A prática consiste em desenvolver cultivos sem a utilização de veneno, combatendo pragas apenas com recursos naturais.
Em um dossiê que reúne dezenas de estudos sobre o tema, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) defende que o agronegócio, nos moldes atuais, é insustentável e pode gerar impactos ambientais irreversíveis a longo prazo.
Além dos reflexos diretos na saúde humana, o uso das substâncias pode contaminar mananciais, um prejuízo que demandaria técnicas muito mais complexas para ser compensado.
Substituição
Biólogo e membro do grupo temático Saúde e Ambiente da Abrasco, Fernando Carneiro explica que pesquisas da Organização das Nações Unidas (ONU) já demonstraram que a agroecologia tem potencial para substituir por completo o cultivo mecanizado e a dependência dos defensivos agrícolas. “Já está provado que o método pode alimentar o mundo. O que falta são políticas de incentivo”.
Em Minas, um grupo ligado à Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) atua no fortalecimento da agroecologia. Edmar Gadelha, responsável pelo projeto, afirma que o desafio é vencer a resistência do modelo de cultivo dominante.
“Queremos trabalhar com a melhoria da fiscalização, que precisa ser ampliada e tem limitação de pessoal. Mas também com a educação, o estímulo às práticas alternativas e o aprimoramento da legislação sobre o tema”, explica.
Além disso: É possível se proteger? 
Não há como evitar o impacto dos agrotóxicos na saúde apenas lavando bem os alimentos, uma vez que as substâncias estão dentro dos grãos, frutas ou legumes que utilizam os defensivos durante o cultivo. A afirmação é da toxicologista do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Márcia Sarpa. 
Apesar de a higiene ser uma prática essencial para evitar danos à saúde, ela explica que o melhor a se fazer para minimizar o problema é procurar produtos da época. “Esses geralmente têm uma carga menor de agrotóxicos”, explica. Outra indicação, segundo a especialista, é dar preferência a vegetais orgânicos que, na maioria dos casos, são vendidos em feiras e cultivados por pequenos produtores.
De acordo com o Ministério da Saúde, colocar os alimentos mergulhados em uma solução de hipoclorito de sódio (água sanitária) com água por 15 minutos é a forma mais eficaz de se higienizar verduras, frutas e legumes.

Fonte: Hoje em Dia.

terça-feira, 5 de junho de 2018

Ciave disponibiliza o serviço de dosagem sérica de medicamentos para a rede pública de saúde

O Centro Antiveneno da Bahia (Ciave), através do seu laboratório de análises toxicológicas (Labtox), retoma as dosagens séricas de fármacos (medicamentos), disponibilizando o serviço para toda a rede pública de saúde. Daniel Rebouças, médico toxicologista e diretor da unidade, explica que o serviço havia sido interrompido em decorrência de dificuldades no processo licitatório para aquisição dos kits necessários para a execução dos exames, o que foi solucionado recentemente.

Daniel Rebouças ressalta a relevância das dosagens séricas de medicamentos de janela terapêutica estreita, ou seja, aqueles onde a dose terapêutica é muito próxima da dose tóxica, que é o caso dos fármacos dosados pelo Ciave: ácido valpróico, carbamazepina, digoxina, fenobarbital, fenitoína e vancomicina. Brevemente, serão também dosados a gentamicina, o metotrexato e a aminofilina (na forma de teofilina).

O coordenador técnico do Ciave, farmacêutico Jucelino Nery, explica que o Labtox/Ciave, além de realizar análises toxicológicas visando auxiliar laboratorialmente as equipes médicas no diagnóstico e tratamento de intoxicações, objetiva também auxiliar no monitoramento de fármacos de pacientes em uso terapêutico, de forma a contribuir para o uso seguro dos medicamentos.

Segundo o farmacêutico, “desta forma, o serviço disponibiliza uma importante ferramenta para o uso racional de medicamentos, tanto em pacientes hospitalizados quanto ambulatoriais, permitindo a prevenção de intoxicação medicamentosa decorrente do uso terapêutico, o diagnóstico precoce de intoxicação, a avaliação da adesão do paciente ao tratamento farmacológico e disponibilização de parâmetro seguro para possíveis ajustes de dose”. Ainda de acordo com o farmacêutico do Ciave, isto contribui para uma maior segurança do paciente e economia para o serviço público de saúde, uma vez que estas análises podem colaborar para a administração de doses mais adequadas para cada paciente, evitando sub ou sobredose, com consequente redução do seu tempo de hospitalização.

As orientações sobre coleta e encaminhamento de amostras podem ser obtidas através do contato com o próprio laboratório, através do telefone 3387-4343 (ramal 206), ou através deste link.

Fonte: Ciave
Ciave/farmacos

sexta-feira, 1 de junho de 2018

O mundo se une contra as picadas de cobra, outra grande doença mortal

OMS aprova resolução para agir contra envenenamentos provocados por répteis que matam mais de 70.000 pessoas por ano.

Foto: Elói Corrêa/ GOVBA
Na Espanha, cerca de 130 pessoas são internadas todos os anos devido a picadas de cobra. Cada internação custa em torno de 2.000 euros (cerca de 8.566 reais) e as mortes por essa causa são pouco frequentes. Entre 1997 e 2009 foram registradas 17 mortes, quase todas porque houve muita demora para aplicar o tratamento. Como na Espanha, nos países mais desenvolvidos os animais venenosos não são um grande problema de saúde pública, mas a situação muda quando se observam as áreas rurais dos países tropicais.

Um exemplo das dificuldades enfrentadas pelos habitantes dessas regiões é o de Nyajinma, uma menina de seis anos do Sudão do Sul. Uma cobra a mordeu enquanto dormia e a mãe carregou-a durante uma hora e meia até o posto de saúde mais próximo. Lá não havia tratamento disponível e mãe e filha tiveram de ir ao hospital que a ONG Médicos Sem Fronteiras (MSF) tem em Agok, onde recebeu duas doses de um antídoto e começou a se recuperar. Muitas pessoas demoram muito tempo para chegar ao lugar onde recebem tratamento adequado e morrem no caminho, perdem algum membro ou ficam cegas.

As carências dos Estados e dos sistemas de saúde dessas nações dificultam o dimensionamento do problema. A Organização Mundial de Saúde (OMS) tentou fazer isso pela primeira vez em 1954. Estimou que entre 30.000 e 40.000 pessoas morriam em consequência de picadas de cobra em todo o mundo. Em 2016, uma nova compilação de dados da OMS atribuiu cerca de 79.000 mortes ao veneno de cobra, com 400.000 vítimas de problemas incapacitantes, como amputações ou cegueira. A esses danos é necessário acrescentar que muitas das centenas de milhares de vítimas de picadas sofrem um estresse pós-traumático semelhante ao das vítimas de acidentes de trânsito.

Para enfrentar essa ameaça, em junho de 2017 a OMS incluiu o envenenamento por mordida de cobra em sua lista de doenças negligenciadas. Na quinta-feira, durante a realização de sua 71ª assembleia, adotou uma resolução que inclui várias iniciativas para melhorar a situação nos países mais afetados.
O grande número de vítimas de picadas de cobra em países de baixa e média renda significa que, em muitos casos, elas não têm acesso a tratamentos muito caros. Um estudo realizado em Bangladesh em 2006 estimou que 75% das pessoas envenenadas gastaram suas economias com o tratamento e 60% delas precisaram tomar empréstimos para pagá-lo. De acordo com dados de 2010 e 2011 fornecidos pela OMS com base em uma análise dos países da Áfricasubsaariana, apenas o antídoto custa em média 124,7 dólares, podendo chegar até 640. Na Índia, o país com o maior número de casos de envenenamento por picada de cobra, o custo a longo prazo de sofrer uma picada pode chegar a 5.890 dólares. Isso significa que, além da toxicidade do veneno, as vítimas enfrentam uma toxicidade financeira.

A resolução da OMS pretende que os Estados membros facilitem o acesso a recursos como antídotos e a treinamentos em hospitais rurais de países pobres. Na parte farmacológica, a organização quer buscar modelos para incentivar a criação de produtos seguros e eficazes, algo complicado considerando que grande parte do mercado que se beneficiaria deles está em países com poucos recursos financeiros. Além disso, a produção de antídotos mais baratos, mas com poucos controles de qualidade, faz com que as empresas farmacêuticas que seguem padrões mais altos não possam competir.

Um exemplo deste problema é o que aconteceu com o Fav-Afrique, um antídoto de amplo espectro que cobre dez toxinas diferentes e é muito útil quando a pessoa que sofreu a picada não é capaz de identificar a cobra ou sequer a viu. Fabricado pela Sanofi, esse soro antiofídico considerado o mais útil na África Subsaariana, deixou de ser produzido em 2014 e o estoque acabou em 2016. A empresa explicou que a produção foi abandonada “em um contexto em que existiam outros produtores capazes de responder às necessidades mundiais”. Além disso, foi apontado o surgimento de produtos alternativos ao Fav-Afrique que tinham preços com os quais a empresa não podia competir. O medicamento custava entre 250 e 300 euros, um valor inviável para muitos dos cidadãos dos países afetados, que necessitavam de financiamento do Estado ou de ajudas de ONGs para recebê-lo.

Ao contrário do que aconteceu com as drogas contra o vírus da Aids, que podiam ser replicadas de forma idêntica, porém mais barata, os antídotos contra venenos de serpentes são medicamentos biológicos, mais difíceis de copiar. Julien Potet, especialista em doenças negligenciadas da MSF, diz que o Fav Afrique “talvez volte a ser produzido por uma empresa do Reino Unido, mas dentro de dois anos no mínimo”. Potet explica que “outros soros antiofídicos com perfil similar ao do Fav-Afrique podem ser encontrados no mercado”, mas que, dadas as particularidades dos produtos biológicos como os antídotos, “podem existir diferenças significativas entre os dois produtos que são parecidos”, como potências diferentes ou efeitos secundários diferentes. “O que estamos tentando fazer é avaliar outros soros antiofídicos parecidos com o Fav-Afrique para avaliar sua eficácia em nossos diferentes projetos na África Subsaariana”, explica.

Os antídotos neutralizam o efeito do veneno, mas não revertem o dano que este já causou à vítima. Para melhorar os tratamentos necessários até a recuperação do paciente, a OMS vai elaborar estratégias para melhorar os sistemas de saúde dos países, treinar profissionais de saúde, melhorar a distribuição de soro antiofídico e garantir que seja usado de forma segura. Em outras doenças tropicais, como a malária, algumas medidas preventivas relativamente simples, como mosquiteiros que mantêm afastados os mosquitos transmissores da doença, mostraram-se muito eficazes na proteção dos habitantes dessas regiões. Potet diz que os mesmos mosquiteiros serviriam para proteger meninas como Nyajinma durante o sono e que botas apropriadas protegem contra picadas de cobra.
Como representante da MSF, Potet comemora a adoção da resolução da OMS, o que significa que a partir de agora as “picadas de cobra estarão nas agendas de saúde nacionais e internacionais”. “Agora os governos precisam assumir compromissos concretos”, conclui.

Fonte: El País

Psicóloga do Ciave participa de curso no Canadá


A psicóloga Soraya Carvalho, coordenadora do Núcleo de Estudo e Prevenção do Suicídio (NEPS) do Centro Antiveneno da Bahia (CIAVE), participa do curso Avaliação de Programas de Prevenção do Suicídio, realizado em Montreal (Canadá), no período de 28 de maio a 01 de junho de 2018.

O evento, promovido pelo Centre de recherche et d’intervention sur le suicide (CRISE) da Université du Québec em Montreal (UQAM), consiste no primeiro curso oferecido a brasileiros que desenvolvem ações em Prevenção do Suicídio no país, além de fazer parte da cooperação técnica firmada entre a Associação Brasileira de Estudo e Prevenção do Suicídio - ABEPS e a Université du Québec em Montreal (UQAM), tendo como objetivo a troca de experiências entre as equipes canadense e brasileira, além de promover a extensão de treinamento às equipes de profissionais. Soraya Carvalho, que também integra a Diretoria da ABEPS, compõe o grupo dos 10 brasileiros convidados para participar deste evento.


O curso ocorre no âmbito do 14e Institut d’été du CRISE, que pretende introduzir os métodos e desafios da avaliação do programa de prevenção do suicídio. Durante os dias de atividades, os participantes estão tendo a oportunidade de adquirir conhecimentos e habilidades em todas as fases essenciais para a condução de uma avaliação do programa em prevenção do suicídio, sua conceituação avaliação dos efeitos e interpretação dos resultados. Exemplos de iniciativas estão permitindo aos ouvintes entender os meandros de uma ampla variedade de contextos de implementação de avaliação de programas. Além disso, este instituto de verão promove o desenvolvimento de um julgamento crítico com relação às ferramentas de avaliação de risco de suicídio e às questões éticas inerentes à avaliação do programa de prevenção do suicídio.

O CRISE é um dos principais centros de referência em prevenção do suicídio do mundo e teve a sua criação, em 1997, motivada pela disposição dos pesquisadores em reunir seus conhecimentos sobre intervenção em suicídio e práticas de fim de vida.

A tentativa de suicídio consiste em uma das principais causas (14%) de intoxicões atendidas pelo CIAVE, onde a psicóloga desenvolve um relevante trabalho de prevenção do suicídio há 27 anos. Segundo Soraya Carvalho, “é indiscutível a relevância deste Curso para aprimorar o trabalho de prevenção que realizamos no NEPS”.

Convidada para participar do evento, Soraya afirma que “o convite para participar deste Curso não podia acontecer em melhor hora. Estamos com um projeto, em fase de análise de viabilidade, de ampliação do NEPS para transformá-lo no 1o Centro de Referência Estadual em Prevenção do Suicídio do Brasil. De maneira que, eu acredito que esta troca de experiências com pesquisadores canadenses trará uma grande contribuição à minha formação e me qualificará para o desenvolvimento de novos programas de prevenção do suicídio que desejamos implantar no Estado, tão logo o Centro de Referência esteja instalado”.

Fonte: Ciave/Sesab.