quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Exposição a agrotóxicos aumenta o risco de suicídio

Matéria publicada no Jornal O Progresso, de Dourados (MS), intitulada "Envenenamento Mental", aborda a relação entre exposição a pesticidas (agrotóxicos) e o suicídio. Confira:

Pode até parecer estranho, mas não é. O aumento recente no número de suicídios no Brasil, especialmente na região Sul, pode estar relacionado à cultura do fumo e aos agrotóxicos usados nas lavouras. Segundo levantamentos, a taxa desse tipo de morte cresceu 12% em quatro anos e colocou o Ministério da Saúde em alerta. Em 2015, foram 11.736 notificações ante 10.490 registradas em 2011. Conforme estudos do departamento de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério, pesticidas aumentam o risco de provocar danos ao sistema nervoso central.

Além do suicídio, a ação do pesticida está associada a outros agravos, que também precisam ser avaliados, como câncer e más-formações congênitas. Entretanto, o índice de pessoas depressivas na região Sul tem crescido de forma preocupante. Pelos dados coletados pelo Ministério da Saúde, estão no Rio Grande do Sul três das quatro cidades com piores indicadores de suicídio.

O município de Forquetinha é o que apresenta a pior taxa de suicídio no País. São 78,7 casos a cada 100 mil habitantes. Para se ter uma ideia, a taxa de mortalidade nacional é de 5,7 a cada 100 mil. Em segundo lugar, vem Taipas do Tocantins, com 57 casos por 100 mil. Travesseiro, no Rio Grande do Sul, vem em terceiro lugar, com 55,8 casos por 100 mil; e André da Rocha, também no Rio Grande do Sul, com 52,4. Também são consideradas de risco regiões do Piauí e a divisa entre São Paulo e Minas.

Como já vem sendo alertado por este veículo, tanto em reportagens, quanto no conteúdo opinativo, a depressão é uma doença que já atinge 322 milhões de pessoas em todo o mundo, conforme levantamentos da Organização Mundial da Saúde. Ela chega sem alarde, silenciosa e acaba fazendo um grande estrago na vida de crianças, jovens, adultos, idosos, homens e mulheres.

Dados do Boletim Epidemiológico lançado pelo Ministério da Saúde deixam claro os problemas de atendimento. Das mortes por suicídio entre 2011 e 2016, 31,3% ocorreram entre mulheres que já haviam tentado outras vezes. No grupo masculino, o porcentual é menor, mas também expressivo, chegando a 26,4%.

Mortes podem estar relacionadas à cultura do fumo e aos agrotóxicos usados nas lavouras

No caso das mulheres, a maior parte das tentativas de suicídio está relacionada à violência intradomiciliar. "Os números reforçam a necessidade de trabalharmos na prevenção contra a violência, uma causa importante para a mortalidade feminina: seja o feminicídio, seja o suicídio." Das tentativas de suicídio registradas no País no período entre 2011-2016, 69% ocorreram entre mulheres. Quando se analisam os números de morte provocadas por suicídio, no entanto, a situação se inverte: 21% ocorreram entre mulheres e 79%, entre homens.

Além disso, outros estudos epidemiológicos têm revelado que transtornos mentais têm maior chance de surgir pela primeira vez no início da vida adulta, principalmente no período universitário. As situações de perda presentes no desenvolvimento normal acentuam-se quando os jovens ingressam na universidade. Eles se afastam de um círculo conhecido de relacionamentos familiares e que pode desencadear situações de crise. O que chama atenção é que a escalada da depressão não escolhe classe social.

Na avaliação de especialistas, o transtorno é avassalador, impiedoso e, em alguns casos, mortal. Em 2015, 788 mil pessoas morreram por suicídio. Entre jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a segunda maior causa de morte em 2015.De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o número de pessoas com transtornos de ansiedade era de 264 milhões em 2015, com um aumento de 14,9% em relação a 2005.

Os alto índices de suicídios cometidos em Mato Grosso Sul também é preocupante. O Estado é vice-líder no ranking nacional de suicídios entre jovens, com idades entre 15 e 29 anos. De cada dez pessoas que cometeram suicídio em MS, quatro são jovens. Para reverter esse cenário, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul está realizando hoje a audiência pública "Setembro Amarelo: Unidos na Prevenção ao Suicídio".

Fonte: O Progresso.

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