Artigo publicado na versão online da Revista Brasileira de Psiquiatria, em seu volume 32, suplemento 2, faz uma revisão de conceitos e dados da literatura que podem contribuir para um incremento do diagnóstico psiquiátrico elaborado em contexto de emergências. O trabalho, cujo título é “Diagnóstico diferencial de primeiro episódio psicótico: importância da abordagem otimizada nas emergências psiquiátricas”, é de autoria de Cristina Marta Del-Ben, Armanda Carla Teixeira Brandão Fragata Rufino, João Mazzoncini de Azevedo-Marques, Paulo Rossi Menezes, profissionais da Divisão de Psiquiatria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (SP), do Núcleo de Psiquiatria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP (SP).
De acordo com a literatura especializada, algumas características inerentes aos atendimentos de emergência psiquiátrica podem interferir na precisão do diagnóstico. No contexto de emergência, geralmente, o diagnóstico psiquiátrico é elaborado a partir de uma avaliação única, em um corte transversal e sem informações adicionais de acompanhantes. Além deste fato, não há a possibilidade de acompanhamento do paciente, inviabilizando a observação da evolução do seu quadro clínico.
Somada à alta demanda, a alta rotatividade normalmente observada em serviços de emergência, limita o tempo disponível para a realização da consulta, assim como o período de observação que permitiria uma avaliação mais adequada dos sintomas.
Com a ampliação do papel dos serviços de emergência na rede de saúde mental, o diagnóstico levantado nessas circunstâncias passou a ter outras implicações terapêuticas e prognósticas, já que as decisões sobre o tipo de tratamento e de serviço para o qual o paciente será encaminhado se basearão nessa primeira impressão diagnóstica. Além disso, sabe-se que o diagnóstico elaborado no momento de admissão do paciente no sistema de saúde mental tende a ser mantido no decorrer do seu tratamento.
A aplicação sistemática de critérios diagnósticos operacionais e uso de instrumentos de avaliação padronizados têm se mostrado úteis para o aprimoramento do diagnóstico de primeiro episódio psicótico elaborado em contexto de emergência psiquiátrica.
De acordo com os resultados obtidos no estudo, as características específicas de atendimento de emergência – avaliação única e breve, em corte transversal e com poucas informações disponíveis – podem dificultar o processo diagnóstico. Essas limitações podem ser contornadas por meio da aplicação adequada de critérios diagnósticos operacionais, do uso de escalas e entrevistas diagnósticas padronizadas e de um tempo mínimo de observação de 24 a 72 horas. Diagnósticos de transtorno bipolar, esquizofrenia, depressão psicótica e transtorno delirante elaborados em contexto de emergência apresentam boa estabilidade temporal, não ocorrendo o mesmo com diagnósticos de transtorno psicótico breve, transtorno esquizofreniforme e transtorno esquizoafetivo. O Primeiro episódio psicótico pode ocorrer na vigência do uso de substâncias psicoativas, sendo relativamente frequente a manutenção do quadro psicótico mesmo após cessação do uso. A utilização racional de exames complementares pode ajudar no diagnóstico diferencial com episódios psicóticos devido a condições médicas gerais.
A revisão conclui que tomados em conjunto, os dados aqui discutidos mostram que algumas medidas relativamente simples, como treinamento e educação continuada de psiquiatras de emergência, aplicação sistemática de critérios e diretrizes diagnósticas e de instrumentos diagnósticos padronizados, uso racional de exames complementares e um período mínimo de observação podem ser úteis para compensar as limitações inerentes aos serviços de emergências psiquiátricas e contribuir para melhorar, sobremaneira, a qualidade do diagnóstico de primeiro episódio psicótico elaborado no contexto de emergência.
Fonte: Scielo. Leia mais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário