O Instituto Nacional
de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) manifestou-se no dia 08/04 contra o
modo como os agrotóxicos são utilizados no Brasil e recomendou a redução do uso
desses produtos. Em um documento de cinco páginas, o instituto ressaltou os
riscos dessas substâncias para a saúde e para a incidência de câncer.
"O modelo de
cultivo com o intensivo uso de agrotóxicos gera malefícios, como poluição
ambiental e intoxicação de trabalhadores e da população em geral", diz o
documento, que, além de apontar as intoxicações causadas imediatamente após a
exposição [ao produto], enumera efeitos que aparecem após anos de exposição.
"Dentre os efeitos associados à exposição crônica a ingredientes ativos
agrotóxicos podem ser citados infertilidade, impotência, abortos, malformações,
neurotoxicidade, desregulação hormonal, efeitos sobre o sistema imunológico e
câncer."
A recomendação do
instituto é que se adote "a redução progressiva e sustentada do uso de
agrotóxicos", prevista no Programa Nacional de Redução de do Uso de
Agrotóxicos e a produção agroecológica, segundo a Política Nacional de
Agroecologia e Produção Orgânica.
O documento do Inca
explica que a presença de agrotóxicos não se restringe a produtos in natura,
como legumes e verduras, existe também em alimentos industrializados com ingredientes
como trigo, milho e soja. "A preocupação com agrotóxicos não pode
significar a redução do consumo de frutas, legumes e verduras, que são
fundamentais em uma alimentação saudável e de grande importância na prevenção
do câncer."
O coordenador de Ensino
do Inca, Luis Felipe Pinto, disse que o Brasil é o país para o qual a discussão
é mais importante, já que é o principal consumidor de agrotóxicos do mundo e
tem forte contribuição da agricultura em sua economia. Segundo ele, o Inca não
faz isso por "achismo" ou por questão ideológica. "Segue as
evidências cientificas, fruto do trabalho de sua equipe e de cientistas no
mundo inteiro."
Pinto justifica o
alerta afirmando também que a Organização Mundial da Saúde e o Inca prevêem
que, em 2020, o câncer se torne a principal causa de morte no Brasil. Para ele,
os efeitos do aumento do uso de agrotóxicos nos últimos anos devem se refletir
em ainda mais casos da doença em 15 ou 20 anos: "Houve uma explosão de
pesticidas. Em dez anos, subiu oito vezes e meia o gasto econômico [com
agrotóxicos], o que é um indicador disso."
Para o produtor
orgânico Alcimar do Espírito Santo, há grande interesse dos agricultores em
mudar sua produção para orgânica, mas hesitações econômicas ainda são um
entrave. "Há toda uma cultura da agricultura convencional, em que eles já
estão acostumados com seus compradores", disse ele. Alcimar classificou a
transição difícil, porque a terra que recebia pesticidas e fertilizantes
precisa "descansar" por um tempo para produzir produtos livres dessas
substâncias.
O nutricionista do
Inca Fábio Gomes destacou que a população que trabalha no campo é a mais
afetada pelos agrotóxicos e disse que o consumidor deve incentivar a economia
orgânica. "É preciso valorizar os produtos orgânicos. E também interferir
e sugerir aos legisladores e tomadores de decisão para que eles valorizem a
produção de alimentos livres de agrotóxicos, inclusive encarecendo a produção
dos demais itens."
Fonte: Agência Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário