domingo, 4 de agosto de 2013

Agrotóxico monocrotofós em alimento que matou 23 crianças na Índia


Segundo informações da polícia local, uma investigação forense inicial constatou que a refeição servida aos estudantes em uma escola do vilarejo de Masrakh, província de Bihar, no leste da Índia, que levou à intoxicação de mais de oitenta crianças com idades entre 5 e 12 anos, tendo 23 destas evoluído para óbito, havia sido preparada com óleo de cozinha com monocrotofós, um pesticida altamente tóxico.
Poucos minutos após a ingestão do almoço gratuito oferecido na escola, as crianças começaram a apresentar vômitos, dor abdominal e convulsões. A diretora da instituição fugiu após as mortes.
A polícia local já suspeitava que o óleo usado era mantido em um recipiente que antes guardava pesticida. O relatório forense apontou que o óleo possuía uma concentração de monocrotofós mais de cinco vezes superior à utilizada na versão comercial.
As refeições gratuitas nas escolas públicas daquele país constituem uma das medidas de bem-estar do governo em muitos dos 29 estados do país e faz parte do Programa de Refeição ao Meio Dia da Índia, que atende 120 milhões de crianças e tem como objetivo combater a desnutrição e estimular a frequência escolar. O programa já havia recebido várias queixas em relação à segurança alimentar.  As intoxicações alimentares nas escolas são frequentes em decorrência dos deploráveis níveis de higiene nas cozinhas desses estabelecimentos e, às vezes, à má qualidade dos alimentos servidos.
O monocrotofós consiste em um agrotóxico do grupo dos organofosforados, de elevada toxicidade, que pode ser absorvido pelo organismo por via cutânea, respiratória e digestiva. O farmacêutico-bioquímico Jucelino Nery, do Centro de Informações Antiveneno da Bahia - CIAVE,  ressalta que o início da sintomatologia pode ocorrer de minutos a algumas horas após a exposição. As manifestações clínicas que, em geral, surgem inicialmente são miose (contração da pupila), sudorese (suor abundante), sialorréia (salivação excessiva), lacrimejamento, náuseas, vômitos, cólicas abdominais, diarréia e bradicardia (diminuição dos batimentos cardíacos). Outras podem ocorrer como ansiedade, cefaléia, tremores, convulsões, depressão respiratória e coma.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o monocrotofós está proibido em muitos países, como Austrália, China, União Europeia, Estados Unidos, além de muitos países da África, Ásia e América Latina.
No Brasil, o uso do monocrotofós restringido em 2003 e a comercialização finalmente proibido em março de 2006. Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei (PL) nº 4412/2012 (apensado ao PL nº 713/1999) que prevê o banimento no país dos agrotóxicos que tenham como ingredientes ativos: abamectina, acefato, benomil, carbofurano, cihexatina, endossulfam, forato, fosmete, heptacloro, lactofem, lindano, metamidofós, monocrotofós, paraquate, parationa metílica, pentaclorofenol, tiram, triclorfom e qualquer substância do grupo químico dos organoclorados.
O projeto determina ainda que os produtos com glifosato, como ingrediente ativo, deverão ser reavaliados em até 180 dias após a publicação da nova lei. Até a análise dos possíveis danos causados pelo princípio, esses produtos serão classificados como extremamente tóxicos ou altamente perigosos, com consequentes restrições de uso.
Alguns desses agrotóxicos já foram proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Outros ainda estão no mercado, mas contam com restrições de uso, ou estão em fase de avaliação. 
PL 713 tramita na Câmara desde 1999 e agora falta apenas a votação na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ).
A FAO e a Organização Mundial da Saúde (OMS), por sua vez, sinalizam que as experiências de muitos países em desenvolvimento demonstram que a distribuição e o uso destes produtos altamente tóxicos envolvem sérios riscos para a saúde humana e para o meio ambiente.
O incidente em Bihar vem corroborar a idéia de que medidas de redução de risco como o armazenamento de agrotóxicos e o descarte seguro de embalagens vazias são tão importantes como outras mais difundidas na área, como o uso de máscaras de proteção e de vestuário apropriado.
No caso dos monocrotofós, muitos governos têm chegado à conclusão que a proibição é a única solução eficaz para preservar a saúde das pessoas e do meio ambiente.
Ainda de acordo com a FAO, todo o ciclo de distribuição e descarte de pesticidas altamente perigosos acarreta riscos consideráveis e as medidas de proteção são difíceis de implementar em muitos países.  

Há um consenso entre as organizações internacionais, incluindo a FAO, a OMS e o Banco Mundial, de que os produtos altamente perigosos não devem estar ao alcance dos pequenos agricultores, que não têm o conhecimento, nem os pulverizadores, as roupas de proteção ou as instalações de armazenamento para os gerir de forma adequada. A FAO recomenda, por isso, que os governos dos países em desenvolvimento acelerem a retirada de pesticidas altamente perigosos dos seus mercados.
Fontes: FAOG1 e CIAVE. Leia mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário